Especialista elenca 13 dicas para pais de adolescentes

Para a psiquiatra Maria Tereza Gomes Rosa, do AME, fase entre infância e vida adulta é marcada por descobertas e exige apoio familiar

qua, 19/04/2017 - 21h02 | Do Portal do Governo

A adolescência é uma fase difícil. A frase é tão comum que todo mundo já ouviu isso algumas vezes na vida. Mas como devem agir os pais de jovens que passam por esse período tão delicado? Como lidar com a rebeldia? Como saber o que se passa com o filho sem violar sua privacidade?

Para buscar essas respostas, conversamos com Maria Tereza Gomes Rosa, psiquiatra e coordenadora do AME de Psiquiatria da Vila Maria, e, a partir das recomendações da profissional, elencamos 13 dicas essenciais para os pais de adolescentes.

Confira abaixo:

1- Adolescência é uma fase de novidades
“É uma fase de transição, muito antigamente não existia adolescência, já saímos da infância para a fase adulta, já começávamos a trabalhar, não havia um tempo de estudo tão grande. Agora, não é assim, nossa sociedade exige um tempo de formação maior. Com a transição, a pessoa já não é mais criança, mas também não é adulto. Eu não diria que chega a ser uma fase difícil, mas, é claro que é diferente. O que deixa a fase mais difícil ou não é a personalidade de cada um”.

2- Hormônios influenciam
“A menarca e a alteração hormonal mensal para as meninas, a mudança de voz para os garotos… Tudo isso precisa ser considerado, porque também mexe com a psique, pois há a necessidade de entender e aceitar essas mudanças”.

3- Quero minha turma!
 “Os ‘rolezinhos’ e outras manifestações mostram como o adolescente tem essa necessidade de fazer parte de um grupo e agir de acordo com certas normas. A gente nota que há grupos em que todos se vestem da mesma forma, adotam o mesmo corte de cabelo. Então, é natural um adolescente procurar um grupo, ele tem essa necessidade”.

4- Diferencie tristeza comum de comportamentos depressivos
“Os pais talvez não não consigam diagnosticar um quadro depressivo, mas podem notar sinais de alerta para buscar uma avaliação especializada. É ver se há mudanças na rotina dele, no comportamento, mudanças fisiológicas  – como alteração de apetite, mudança no sono, mudança no rendimento escolar. A mãe e o pai precisam conhecer o filho para saber, por exemplo, se ele é mais introspectivo mesmo ou se é algo novo. Claro que cada caso é um caso, mas os pais precisam entender o que está acontecendo”.

5- Não viole a privacidade, mas esteja de olho
“A Internet traz uma preocupação aos pais, mesmo porque ela faz com que o adolescente tenha acesso ao mundo inteiro. Não é aconselhável vasculhar celular, ler mensagens. Mas é preciso estar perto, porque, muitas vezes, quando um adolescente participa de um jogo na Internet, ele não sabe o quanto é perigoso ou que está sendo manipulado”.

6- Seja acessível
“Mostre-se acessível ao filho e entenda que ele contará algumas coisas e outras não. O importante é o pai e a mãe deixarem claro que estão ali com eles. A dica é deixar a porta aberta para que o filho possa procurá-los quando tiver vontade. É essa proximidade que vai ajudar no diálogo”.

7- Conheça seu filho, participe da vida dele
“Saiba a rotina dele, o que ele faz, o que ele gosta, quem são os amigos, quais são os projetos de vida. Quando você conhece a rotina e participa de coisas práticas, você abre espaço para ele compartilhar as questões afetivas e emocionais”.

8- Drogas e bebidas alcoólicas
“Se encontrar cigarros ou drogas nas coisas do filho, é preciso conversar sobre o que está acontecendo. E ficar de olho, por exemplo, se na conversa ele prometer que não vai mais usar, permaneça atento, porque pode ser que o adolescente não fale a verdade. A questão de drogas esbarra muito no tema sobre mudança de comportamento e a necessidade de grupo, pois os adolescentes costumam não usar sozinhos”.

9- Elogiar é tão importante quanto cobrar
“Quando queremos o melhor para os nossos filhos, cobramos muito, que ele estude, tenha boas notas. Mas, geralmente, consideramos aquilo que fez bem como obrigação dele. É claro que é importante cobrar, mas é preciso também frisar o que ele faz de bom. Se eu só cobro sem reforçar as qualidades, ele vai achar que não faz nada de bom, vai achar que as coisas boas que ele faz não são notadas”.

10- Bullying
“O bullying não é uma questão tão incomum, muitas pessoas sofrem e cada um reage de forma diferente. Também nesse ponto, voltamos ao fato de estar presente, analisar o quanto o filho está sendo prejudicado. Ou seja, ir à escola, conversar com diretores e verificar o que pode ser feito, porque sabemos que há casos muitos graves de bullying em que os jovens não querem ir para escola, temem ser agredidos etc. Mas antes de tudo é preciso entender o que está acontecendo com o filho para pedir ajuda”.

11- Jogos de Internet
“Os adolescentes costumam ser mais impulsivos, curiosos, querem fazer parte de um grupo. Acabam sendo atraídos por jogos como o da baleia azul. Muitas vezes podem não perceber que estão sendo manipulados, o que os deixa mais suscetíveis. Se perceber que seu filho está participando de um jogo desses, converse e, se for o caso, peça ajuda profissional”.

12- Automutilação
“A  automutilação acontece independente do jogo da balela azul. No entanto, não é porque um adolescente entrou num grupo de amigos que fazem isso, que ele necessariamente fará. Quem acaba sendo mais prejudicado por esses grupos são os adolescentes mais frágeis”.

13- Suicídio
“Ainda precisamos de mais estudos sobre isso na psiquiatria, mas sabemos que o suicídio pode ter um efeito de massa até para adultos. Não há comprovações, mas notamos que notícias de suicídio podem desencadear outros atos. E também não é só porque uma pessoa sofreu bullying ou participa de um jogo que vai se suicidar. Isso depende de uma série de fatores, da rede de apoio que a pessoas têm e até das questões patológicas mesmo”.

AME: atendimento com especialistas
Os Ambulatórios Médicos de Especialidades (AME) são postos descentralizados de atendimento que contam com médicos de diferentes especialidades (acupuntura, psiquiatria, cardiologia, endocrinologia, oftalmologia, neurologia, entre outros).

Criado para tornar mais rápido o atendimento na rede pública de saúde, o AME oferece em suas unidades exames que vão desde a um simples Raio-X aos procedimentos mais complexos, como a eletroneuromiografia (exame neurológico para avaliação dos nervos e músculos) e densitometria óssea, que é o exame mais seguro para detectar fraturas.

Cirurgias também podem ser feitas em algumas das unidades. Os pacientes são encaminhados pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) dos municípios, que marcam as consultas pelo sistema informatizado de agendamento da Secretaria da Saúde.