Instituto de Botânica fará compensação ambiental do trecho norte do Rodoanel

O trajeto da rodovia que vai passar pelo Parque Estadual Serra da Cantareira será acompanhado pelos pesquisadores do IBot

dom, 12/08/2012 - 20h10 | Do Portal do Governo

A empresa Desenvolvimento Rodoviário S/A (DERSA), responsável pela trecho norte do Rodoanel Mario Covas, contratou o Instituto de Botânica de São Paulo (Ibot), órgão da Secretaria do Meio Ambiente (SMA), como consultor e orientador da recuperação da vegetação afetada com a construção. O documento SMA 01/2012 foi assinado pelo diretor do IBot, Luiz Mauro Barbosa, e pelo presidente da Dersa, Laurence Casagrande Lourenço, na quinta-feira, 9, na sede da companhia.

O contrato tem duração de três anos e estabelece a parceria dos órgãos públicos para compensar a perda da vegetação nativa. Com 43,8 km de extensão, a obra rodoviária cruzará o Parque Estadual da Serra da Cantareira, maior floresta urbana do mundo e patrimônio da humanidade, e causará danos e supressão da flora local.

O acompanhamento do reflorestamento compensatório pelo IBot, “ou outra instituição do mesmo gabarito” é exigência do Estudo de Impacto Ambiental – Relatório de Impacto de Meio Ambiente, o EIA-RIMA, da obra que, por seu porte, tem medidas condicionantes de mitigação dos impactos ambientais para ser aprovada e licenciada. O documento propõe que haja o resgate de flora, assessoramento e acompanhamento dos plantios compensatórios.

Competência

A condição atesta a credibilidade do trabalho técnico do Instituto, que conta com corpo técnico de 80 pesquisadores. Desses, cerca de 60 vão a campo para garantir a qualidade do trabalho, que consiste em três etapas: reconhecimento da paisagem natural, resgate das espécies e restauração mitigatória.

Essa não é a primeira vez que os botânicos do instituto são designados para tamanha responsabilidade. O trabalho realizado pela equipe de Luiz Mauro Barbosa no trecho sul da megarrodovia foi exemplo de recuperação ambiental. A técnica e a metodologia de monitoramento da vegetação danificada e a reprodução da floresta nativa em áreas próximas foi desenvolvida pelo IBot. A iniciativa foi inclusive responsável pela descoberta de espécies raras e uma, a Tillandsia linearis, que até então era considerada extinta.

“Dessa vez poderemos comparar a paisagem antes e depois da obra e analisar o resultado. As árvores de pequeno porte serão movidas para as laterais da estrada. As que não permitirem remoção e forem cortadas serão reproduzidas em viveiro e replantadas. Além dos benefícios ao meio ambiente, aproveitaremos o trabalho para produzir e replicar conhecimento científico” declara o diretor do IBot.

Os botânicos visitarão o local antes, durante e depois da construção da rodovia. Além do acompanhamento das atividades, os técnicos também realizarão cursos de capacitação para os funcionários da empreiteira. “A conscientização ambiental acontece no chão da obra”, explica Barbosa.

Melhorias

“Estamos construindo um novo caderno de boas práticas ambientais”, declara Laurence Casagrande, da Dersa. Ele se refere à melhoria dos trabalhos entregues à população, nesse caso, a floresta duradoura. “Agora o plantio compensatório é feito corretamente e ainda gera produtos”, completa.

O sucesso do trabalho vem gerando produtos além da compensação. “Desenvolvemos um guia de espécies para facilitar a empreiteira na hora de escolher as mudas. Percebemos que muitas vezes a falta de conhecimento resultava na aquisição de espécies inadequadas para o local”, informa o diretor do Botânico sobre o guia que foi publicado.

A Mata Atlântica, onde passa o trecho sul do Rodoanel, escondia segredos que foram revelados graças ao trabalho do IBot mata adentro. Espécies raras, ameaçadas de extinção e uma já considerada erradicada foram descobertas durante o monitoramento da vegetação e hoje elas são reproduzidas no viveiro Tamboril, do IBot, inaugurado recentemente.

Além do conhecimento científico e das descobertas, o trabalho também foi responsável por mudanças legais. Visando replicar a dinâmica natural da floresta, o diretor do Instituto conseguiu, com a Resolução SMA-21, publicada em 2001, a determinação legal de regras do reflorestamento. Antes, por hectare, eram plantados no máximo 30 espécies, agora há obrigatoriedade de o plantio ter o mínimo de 30 a 80, aumentando a biodiversidade da mata e aproximando a floresta plantada da original. “É assim que as florestas acontecem”, diz ele.

A mudança da legislação impulsionou a produção de mudas pelos viveiros. Hoje são 208 viveiros cadastrados. A estimativa de Barbosa é que a produção chegue a 41 milhões de mudas por ano, representando mais de 600 espécies nativas do estado de São Paulo.

Evolução

O Rodoanel Mario Covas começou a ser construído pelo trecho oeste, que era o mais antropizado. Apesar da grande urbanização da área, a compensação ambiental também era exigência desse trecho. No entanto, sem a experiência necessária, o replantio não deu resultados.

Aprendendo com o erro, o trabalho de mitigação de impacto da segunda parte licenciada do Rodoanel, o trecho sul, foi feita com o acompanhamento do Instituto de Botânica.

Já o trecho Norte da rodovia segue a cartilha. A parceria é estabelecida com antecedência, permitindo aos pesquisadores tempo para realizar o estudo mais detalhado e monitorar e acompanhar a evolução da área plantada periodicamente.

Da Secretaria do Meio Ambiente