Libras: Curso ensina linguagem de sinais para policiais de Sorocaba

O curso, destinado a voluntários, foi baseado na Língua Brasileira de Sinais

sáb, 21/08/2004 - 13h21 | Do Portal do Governo

O artigo 5º da Constituição Federal diz que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, e com direitos à segurança. E se houver uma pessoa que tenha necessidades especiais, como o policial vai se comunicar com ela? A pergunta feita por uma amiga do coronel João Oliveira Verlangieri, comandante do 7º Comando de Policiamento do Interior, em Sorocaba, durante seminário de biologia, despertou sua atenção para o problema. “Temos de ter acesso a essa gente que merece nossa atenção e respeito, afinal nossa cidade tem 5 mil deficientes auditivos. A idéia foi amadurecendo e pretendo preparar 190 instrutores para disseminar o conhecimento”, disse Verlangieri.

O curso, destinado a voluntários, foi baseado na Língua Brasileira de Sinais (Libras) e tem 30 horas/aula (cinco semanas), com duas aulas de três horas por semana. O interesse foi tanto que o coronel pretende oferecê-lo para mais alunos. “É uma forma de sermos úteis. Não podemos aceitar exclusão no nosso atendimento. A primeira idéia era incentivar os policiais, mas o que eu queria mesmo era participar. Foi a melhor coisa que fiz na minha vida.” São 32 alunos de Sorocaba e de cidades próximas. Bombeiros, policiais militares, civis, ambientais, rodoviários e profissionais da polícia científica estão participando. Até um sargento de São Paulo, que está de férias, pediu para fazer parte do treinamento.

“É bom aprender para conhecer e saber se comunicar com um deficiente na rua, na escola, no ônibus e nos hospitais. Todos estão gostando. Para ficar mais divertido, trago música para eles aprenderem”, destacou a professora Eliane Signorelli Carvalho, que é pedagoga e deficiente auditiva. Ela recebe ajuda de custo da Santa Casa de Misericórdia para auxiliar nas despesas de locomoção. Verlangieri explica que a iniciativa é um projeto-piloto que poderá ser estendida para outras unidades da corporação.

“Estamos instrumentalizando o nosso pessoal para executar serviço de qualidade”. Além do curso de Libras, oito policiais da região estão estudando inglês. O objetivo é aumentar a capacidade de atendimento à população. Em Sorocaba, outros programas garantem a eficácia dos militares. No Hospital Regional, por exemplo, foi criada uma recepção diferenciada para vítimas de violência sexual, diminuindo o tempo de espera e ajudando na investigação. O 7º Comando está organizando também uma biblioteca com diversos títulos de interesse de todo a a corporação.

Dedicação

São três horas de aula sem intervalo, no período da noite, no quartel de Sorocaba. Mesmo depois de terem trabalhado o dia inteiro, muitos ainda fardados, não perdem um sinal da professora. Ao relembrar as aulas anteriores, se esforçam para acertar os gestos ensinados por Eliane. O coronel Verlangieri é um dos alunos mais empolgados. Sentado na primeira fila, vibra quando acerta o sinal. É fácil perceber o entusiasmo quando exibe orgulhoso sua apostila: “já aprendi muita coisa”.

Regina Maria Caramuru Moreno, médica-legista do Instituto Médico Legal de Sorocaba, acredita que, além de acrescentar no trabalho, o curso serve para integrar os policiais: “Recebemos o convite da Polícia Militar para aprender e servir melhor a comunidade, falando a mesma língua. O entendimento facilita e possibilita a justiça”. A médica explica que, normalmente, o deficiente auditivo fica nervoso quando não consegue se comunicar, dificultando a investigação policial. “A informação deles é importante para nós”, completa.

“Acho importante porque podemos encontrar pessoas com algum tipo de necessidade especial. O curso está ótimo, mas ainda temos muito coisa para aprender nas próximas semanas”, espera Sérgio Antônio Leme, policial rodoviário de Itapetininga, que viaja 80 quilômetros para participar das aulas. O primeiro-sargento Ezequiel, de Tatuí, também viaja mais de 70 quilômetros para acompanhar o ensinamento. “Além de aprendermos a linguagem dos sinais, seremos multiplicadores.”

Imprensa Oficial entregou 6,5 mil dicionários a escolas

Mais de 15 mil cópias do Dicionário de Libras Ilustrado foram distribuídas pela Imprensa Oficial. Lançado em novembro de 2002, oferece 3.585 vídeos, 3.340 imagens e mais de 43 mil verbetes. O dicionário foi um dos três finalistas da categoria Iniciativas de Sucesso do Prêmio Conip 2003.

A idéia surgiu quando Flávia Brandão trabalhava como coordenadora das oficinas culturais da Estação Especial da Lapa, que oferece cursos para portadores de necessidades especiais. “a maioria das pessoas não sabe como perguntar o nome para um deficiente auditivo. Há escassez de material em Libras, e o pouco que tem é vendido. A Imprensa Oficial me deu a oportunidade de desenvolver o trabalho com a equipe do Acessa São Paulo”, informa Flávia.

A empresa entregou 6,5 mil cópias do CD para as diretorias de ensino de São Paulo para que fossem distribuídas em escolas públicas do Estado. O Dicionário de Libras está disponível nos postos do Acessa São Paulo. O CD foi enviado, também, para os Estados Unidos, Peru, Argentina, Portugal, Espanha, Japão e Canadá. A maioria das solicitações vem de educadores que pretendem desenvolver sistema similar em seus países. São aproximadamente 50 e-mails diários solicitando o envio do dicionário.