USP: Projeto de piscicultura reduz desnutrição nas comunidades indígenas de São Paulo

Criação de peixes está sendo implantada de acordo com as tradições dos índios guaranis

qua, 30/03/2005 - 15h27 | Do Portal do Governo

Duas comunidades indígenas na cidade de São Paulo enfrentam o problema da fome com a criação de peixes para pesca, ajudadas por uma equipe da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP. Após controlar doenças transmitidas por animais nas aldeias guaranis Krucutu e Morro da Saudade, em Parelheiros, o grupo da FMVZ implanta um sistema de criação gerido pelos próprios índios, respeitando sua cultura.

A professora da FMVZ, Sonia Regina Pinheiro, coordenadora do projeto, relata que a iniciativa surgiu em 2003, em reuniões com os índios. ‘Por tradição, os guaranis são caçadores e pescadores. Assim optou-se pela piscicultura para pesca de subsistência’, conta. ‘A criação pode ser mantida pela comunidade e não há laços afetivos com os peixes que impeçam seu uso na alimentação.’

A criação foi implantada em dois açudes construídos pela empresa Furnas Centrais Elétricas nas reservas indígenas. ‘Cada açude foi povoado com 1.500 alevinos de tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus), peixe resistente e de fácil manejo’, afirma José Henrique Mussumeci Ferreira, aluno da FMVZ. ‘A água era muito ácida, o que foi corrigido para facilitar o crescimento e a sobrevivência dos peixes e do plâncton, base de sua alimentação.’

Criação

Ferreira foi assessorado por técnicos do Instituto de Pesca para dar aos índios noções de piscicultura. ‘Os próprios indígenas, que buscavam peixes na represa de Guarapiranga, resgataram antigos costumes como o de ensinar as crianças a pescarem com arco e flecha’, diz.

Na aldeia Krucutu, a pesca está implantada, mas em Morro da Saudade o leito do açude será mudado para facilitar a reprodução dos peixes. ‘A tilápia-do-nilo é um peixe prolífico, que fornece muita carne’, aponta José. ‘A criação é barata, pois só necessita da correção da água com cal, adubagem e introdução dos alevinos.’

O trabalho da FMVZ nas aldeias, que reúnem cerca de 850 índios, começou em 2000. ‘Profissionais da Seção de Assistência Comunitária do Instituto da Criança (ICr) do Hospital das Clínicas (HC) atuavam no local e pediram ajuda para controlar a sarna nos cães’, explica Sonia Pinheiro.

Fome

O tratamento reduziu o contágio da sarna nas crianças da aldeia e foi feito com outras doenças transmissíveis aos seres humanos. ‘Com a redução da mortalidade de cães e gatos, o problema passou a ser a fome na aldeia, o que motivou a equipe a implantar a piscicultura para criar uma fonte permanente de proteína animal’, conclui a professora.

Sonia Pinheiro afirma que a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) acompanha o projeto e estuda convidar outras faculdades de medicina veterinária para implantar iniciativas semelhantes em todo o Brasil. Os resultados do trabalho da FMVZ serão apresentados no 5º Fórum Nacional de Defesa da Saúde da Criança Indígena, que será realizado nos dias 19 e 20 de abril no SESC da Avenida Paulista, 119, em São Paulo.

Informações adicionais podem ser obtidas com Sônia Regina Pinheiro, por telefone: (11) 3091-1383; ou e-mail: zmn@meetingeventos.com.br

Júlio Bernardes – Agência USP

(LRK)