USP: Nova praga da lichia no Brasil causa prejuízos de até 5%

Praga foi registrada pela primeira vez no Brasil em 2002

ter, 15/03/2005 - 12h49 | Do Portal do Governo

Uma nova praga está atacando os pomares de lichia da região sudeste do País. A grande questão, segundo o professor Octávio Nakano, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP de PIracicaba, é identificar precisamente qual das espécies da família Tortricidae que está causando prejuízos aos agricultores.

Existem duas possibilidades: a praga ser da espécie Crocidosema litcthivora, que causa anualmente no Estados Unidos perdas da ordem de 40% da produção, ou da C. Lantana, nativa do Brasil e mais amena que sua parente.

Registrada pela primeira vez no Brasil em 2002 pelo próprio Nakano, a praga tem causado prejuízos de 5% para os produtores. ‘Se o ano não for favorável à praga, o prejuízo nem chega a este valor, mas ele tende a aumentar, pois a constatação é recente’, estima. Apesar de esta ser de longe a pior que já atacou os pomares brasileiros de lichia, as perdas não devem ser muito sentidas, pois a cultura ainda não tem grande expressão no País.

O pesquisador justifica que a confusão na definição da espécie tem um motivo. ‘Existe uma suspeita de que a praga foi introduzida, acidentalmente, nas culturas brasileiras, por intermédio de mudas importadas’, afirma. Neste caso, a C. litchivora seria a responsável pela infestação. Nakano explica que a hipótese da introdução é a mais cogitada por um motivo simples: existem pomares de lichia no Brasil há mais de 15 anos. Há três anos, não havia registros da ocorrência de Crocidosema no Brasil. ‘O fato de ser uma praga recente pode indicar que seja uma introdução’, explica o pesquisador.

No entanto, as infestações detectadas têm um comportamento típico da C. lantana. Os ataques foram registrados apenas nas brotações das plantas, que costumam surgir após pequenos períodos de chuva. A C. litchivora, por sua vez, ataca tanto os brotos como as inflorescências (as formações que originam os frutos), motivo pelo qual ela é considerada mais prejudicial. ‘A inflorescência ocorre num período curto, enquanto a brotação ocorre num período mais longo e várias vezes ao ano, dificultando o controle.’

A definição de qual é a espécie deve sair em breve, segundo Nakano. ‘Nós só não sabemos ainda porque o material que mandamos a um especialista, para realizar a análise, foi extraviado’. Ele diz que recebeu uma literatura americana com a qual será possível identificar a praga, mas que no momento não possuem amostras para isso. ‘Estamos só esperando a próxima brotação para coletar exemplares do inseto’. Ele acredita que dentro de um mês, que é a duração do ciclo da praga, a questão esteja definida.

Providências
Caso sejam confirmadas as suspeitas de que a praga foi introduzida, uma das primeiras atitudes a serem tomadas é a notificação ao Ministério da Agricultura. ‘Se ela veio de fora é possível que o governo queira tomar alguma medida no sentido de evitar que ela se dissemine’. Na opinião do pesquisador, não há motivo para grandes preocupações, pois a agressividade da praga ainda é pequena.

Entretanto, Nakano adverte que deve-se iniciar desde já o controle do inseto. ‘O tipo mais utilizado é o químico (inseticidas), mas as universidades têm interesse no controle biológico, que propicia um alimento mais saudável e que traria uma boa imagem ao produto’. Ele ressalta ainda que o Brasil teria boas chances no cultivo em larga escala voltado à exportação, pois a colheita brasileira ocorre numa época diferente da realizada no oriente, de onde a fruta é originária.

André Benevides, Da Agência USP

M.J.