USP: Mudança nas relações de trabalho na telefonia diminui salários e benefícios

Demissões atingiram trabalhadores mais experientes e com menos escolaridade

qui, 17/02/2005 - 18h52 | Do Portal do Governo

A reestruturação da telefonia no Brasil modernizou os serviços ao consumidor, mas as terceirizações reduziram os salários de trabalhadores do setor em até 40%. A conclusão está na tese de doutorado de Sirlei Márcia de Oliveira, apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. O estudo comparou a organização e as relações de trabalho na estatal Telesp e na Telefônica, que assumiu a telefonia fixa em São Paulo após a privatização, em 1998.

Sirlei aponta que a Telesp tinha 24 mil funcionários e a Telefônica possui 7.100. ‘A empresa pública concentrava-se em engenharia, operação e apoio, enquanto a Telefônica priorizou a venda de linhas e a supervisão das demais tarefas, repassadas a prestadores de serviço em áreas’, explica. ‘Existem 20 empresas trabalhando para a Telefônica, num total de 42 mil funcionários, metade dos trabalhadores do setor no estado de São Paulo.’

Durante a reestruturação, aponta a pesquisadora, houve grande número de demissões, atingindo trabalhadores mais experientes e com menos escolaridade. ‘Em 1997, 68,5% dos trabalhadores em telefonia tinham entre 30 e 49 anos, número que caiu para 54,8% após a privatização, e os empregados entre 18 e 29 anos passaram de 22,1% para 39,2% no mesmo período’, relata. ‘Os cabistas, instaladores e reparadores da Telesp foram demitidos, e as terceirizações reduziram a média salarial destes setores entre 30% e 40%’.

Negociações

De acordo com Sirlei, as condições de trabalho na área de telefonia mudaram com a privatização. ‘Houve perda de benefícios, embora as jornadas de trabalho tenham aumentado e as reestruturações funcionais sejam constantes’, afirma. ‘As antigas diretorias da Telesp foram substituídas por equipes com menos níveis hierárquicos, e os planos de carreira deram lugar a avaliação individual e o cumprimento de metas.’

As terceirizações pulverizaram os trabalhadores do setor, limitando a ação dos sindicatos, observa a pesquisadora. ‘Os empregados da Telesp estavam reunidos em um único sindicato, o Sintetel, que negociava os acordos coletivos com a empresa’, diz. ‘Hoje, há trabalhadores ligados a vários sindicatos, como o da construção civil e o dos operadores de telemarketing, que realizam negociações em separado e com várias empresas, reduzindo o poder de barganha dos trabalhadores.’

Para realizar a pesquisa, Sirlei entrevistou 72 pessoas, entre gerentes e trabalhadores da Telefônica e de duas empresas prestadoras de serviço, nas áreas de telemarketing e instalação e manutenção de linhas, além dos sindicalistas. ‘Há uma grande preocupação da Telefônica com o controle de qualidade, que é estendido aos serviços terceirizados’, diz. ‘Mas apesar da expansão das linhas, o preço das assinaturas ainda inibe consumidores de baixa renda.’

Mais informações: (11) 3801-3775, com Sirlei Márcia de Oliveira

Júlio Bernardes – Agência USP