USP: Bactérias sobrevivem a processamento do leite e podem provocar diarréia e vômitos

Amostras foram recolhidas em indústrias do Estado de São Paulo

qui, 03/03/2005 - 10h56 | Do Portal do Governo

Exames realizados num estudo apresentado à Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP revelaram a presença de esporos de bactérias, que podem provocar diarréia e vômitos, em amostras de leite UHT produzido no Estado de São Paulo. ‘Somente a análise do DNA por exames de Reação de Cadeia de Polimerase (PCR) conseguiu identificá-los com precisão, o que não acontece com os testes tradicionais’, afirma Vera Regina Monteiro de Barros, autora da pesquisa.

Ela estudou 65 amostras de leite UHT de todas as fábricas do produto em São Paulo. ‘O leite é submetido a temperaturas de 130 a 150 graus por 2 a 4 segundos, destruindo bactérias vegetativas, mas raramente podem sobreviver esporos de bacilos, mais resistentes’. Segundo Vera, pode haver recontaminação após o processamento, o que também é muito raro. ‘A lei brasileira permite até 100 ufc (unidades formadoras de colônias) por mililitro de leite, mas 7,69 % das amostras estavam acima dos padrões.’

As amostras fora de padrão passaram por exames de PCR para identificar bacilos patogênicos. ‘Em 6,1% das amostras encontrou-se o Bacillus sporothermodurans, que não causa problemas no leite, sendo aceito pela legislação’, relata Vera.

Em 1,5% das amostras, aponta a pesquisadora, foram achados bacilos do grupo do Bacillus cereus, com patogenicidade comprovada em testes com culturas de células e camundongos. ‘Em seres humanos, o bacilo pode causar duas Enfermidades Transmitidas por Alimentos (ETA), a síndrome diarréica e a síndrome emética, caracterizada por vômitos três horas após a ingestão do alimento’, diz Vera.

Controle

Vera Regina afirma que o exame de PCR é mais eficiente do que a análise bioquímica utilizada durante o processamento do leite UHT. ‘A Reação de Cadeia de Polimerase identifica com precisão, pelo DNA, os bacilos presentes nas amostras, especialmente os que trazem riscos para a saúde’, explica. ‘Na pesquisa, os bacilos patogênicos estavam associados aos Bacilus sporothermodurans, o que não é detectado pelos métodos tradicionais’.

A pesquisadora, que trabalha no Ministério da Agricultura, aponta que o teste de PCR deve ser feito se houver problemas microbiológicos durante o período de ‘quarentena’ do leite, quando o produto é estocado sete dias após o processamento para avaliar riscos de recontaminação. ‘O controle é feito pelas indústrias e pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF)’, diz. ‘As partidas de leite só poderiam ser liberadas após análise detalhada dos bacilos, e destruídas se tiverem microorganismos patogênicos’.

Nos registros do Ministério da Saúde, Vera Barros não encontrou nenhum caso de infecção alimentar causada por leite. ‘No Ministério da Agricultura há algumas reclamações, mas não houve conclusão epidemiológica, ou seja, não se concluiu pela responsabilidade do leite nas reclamações, conta a pesquisadora. ‘Nos últimos quinze anos, o controle de qualidade das indústrias e o processo tecnológico do leite UHT foram muito aperfeiçoados’.

Júlio Bernardes, Da Agência USP

M.J.