Saúde: Catarata é a maior causa de cegueira em Campinas

Levantamento feito pelo setor de oftamologia pode orientar políticas públicas na área da saúde

seg, 21/03/2005 - 12h28 | Do Portal do Governo

Do Portal da Unicamp
Por Jeverson Barbieri

Um estudo recém-concluído pelo Setor de Oftalmologia do Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp revelou que a catarata é a principal causa de cegueira no município de Campinas. O trabalho, inédito no Brasil, foi coordenado pelo oftalmologista Carlos Arieta, que também dirige o Setor de Catarata do HC.

O levantamento, realizado no primeiro semestre, abrangeu um universo de 2.224 moradores na faixa etária a partir de 50 anos. Desse total, foram identificadas 44 pessoas portadoras de cegueira ou outras deficiências visuais graves. A pesquisa concluiu que em 40% dos casos a catarata aparece como principal causa da perda da visão. Outras causas prevalentes ou importantes foram retinopatia diabética (doença na retina), com 16%, e glaucoma, com 11%.

Números são parecidos com os de outros países

“O percentual de deficiências visuais causadas pela catarata em Campinas coincidiu com a incidência média da doença na maior parte dos países”, explica Arieta. Segundo ele, a doença responde por uma margem que vai de 40% a 60% dos casos de cegueira no mundo. O levantamento feito em Campinas é o primeiro do gênero na América Latina. Os dados, segundo o médico, podem ajudar na formulação de políticas públicas voltadas para o combate à cegueira.

A pesquisa também revelou que a falta de informação e de oportunidade estão entre as principais causas da cegueira decorrente da catarata. Em aproximadamente 17% dos casos estudados, os portadores ignoravam possuir a doença. Outros 17% sabiam de sua existência, porém, por conselho médico, resolveram esperar mais tempo para tratá-la. Já 11% alegaram não ter tratado da doença por medo da cirurgia, enquanto 5% tiveram dificuldade em encontrar um acompanhante para a realização da operação. Outros 40% disseram ter algum problema secundário que impedia a realização do tratamento.

Caracterizada pela opacidade do cristalino (lente situada no interior do olho), a catarata pode ser congênita (rara) ou adquirida. “É uma doença tratável”, destaca Arieta. “Mesmo que o paciente esteja cego, com a cirurgia ele pode voltar a enxergar normalmente”, garante.

As cataratas congênitas são aquelas que aparecem nas crianças e podem ser hereditárias (em até 20%) ou por infecções (rubéola, durante a gestação, é a causa mais freqüente) ou ainda por desordens metabólicas (diabetes).

As cataratas adquiridas podem ter como causa a idade (é a mais comum é aparece com 60 ou mais anos e é chamada de “catarata senil”); o trauma; o uso de determinados medicamentos, como os que possuem corticóides; as inflamações intra-oculares; as radiações e diversas doenças das quais a diabetes é a mais freqüente.

A pesquisa revelou, ainda, que a taxa de cobertura no tratamento à catarata em Campinas chega a 88%. “É um dado extremamente importante”, observa Arieta. Esse número, segundo o médico, evidencia um salto significativo. Em 1986, quando o oftalmologista Newton Kara José, também da Unicamp, começou o Projeto Zona Livre de Catarata, no Núcleo Bandeirantes, em Campinas, com 100 mil habitantes e 25 mil residências, a cobertura não passava de 40%.

Outro dado importante apontado pela pesquisa é que das pessoas já operadas, 52% fizeram através do SUS, sem custo algum, enquanto 21% pagaram o custo total e 26% pagaram custo parcial. Além disso, 72% das pessoas operadas tiveram recuperação bastante satisfatória. Foi observado um aumento significativo no número de cirurgias realizadas pelo SUS, de 1999 até 2004. A média anual passou de 90 mil para 320 mil cirurgias anuais.

Mais informações podem ser obtidas no site www.unicamp.br
V.C.