Pesquisa: Equipe apresenta descrição detalhada de vírus associado à morte súbita dos citros

nd

ter, 29/03/2005 - 21h35 | Do Portal do Governo

Saiu o primeiro artigo científico assinado pelo corpo de pesquisadores da Alellyx Applied Genomics, empresa privada de biotecnologia nascida a partir do Programa Genoma FAPESP. Foi publicado neste mês de março na Journal of Virology com a caracterização genética e molecular de um vírus que a equipe de pesquisadores da Alellyx considera um forte candidato a agente causador – ou ao menos um dos agentes causadores – da morte súbita dos citros, doença que já se instalou em cerca de 2 milhões de laranjeiras nos estados de São Paulo e Minas Gerais. De acordo com esse estudo, há 99,7% de associação entre o agora chamado Citrus sudden death-associated virus (CSDaV ou vírus associado à morte súbita dos citros) e o mal capaz de matar uma laranjeira ou uma tangerineira em poucos meses.

Mesmo assim, não se pode dizer que seja realmente esse o responsável pela morte das plantas. É preciso ainda demonstrar que existe uma relação clara de causa e efeito, o chamado postulado de Koch, que consiste em inocular o suposto agente causador da doença em organismos sadios, nesse caso as laranjeiras, e verificar se elas contraem ou não a enfermidade. É um trabalho demorado, no qual é preciso ceder aos caprichos do vírus, cujo período de incubação pode chegar a três anos. Só então é que aparecem os primeiros sintomas: a perda de brilho das folhas e o bloqueio dos vasos que conduzem a seiva da copa para as raízes. Então as raízes morrem e, com elas, as plantas.

Os pesquisadores da Alellyx podem ainda não ter em mãos a certeza que almejam, mas nem por isso deixam de celebrar a publicação desse artigo, um marco na história dessa empresa. O estudo de dez páginas que saiu na Journal of Virology , uma revista internacional de primeira linha no campo da virologia, indica que é possível conciliar o desenvolvimento de produtos com a pesquisa científica de alta qualidade, como pretendiam os cinco fundadores da empresa – todos eles especialistas em biologia molecular e bioinformática que não queriam abdicar do rigor científico com que haviam trabalhado nas universidades de onde provinham. ‘A Alellyx compõe o quadro de iniciativas de sucesso em genômica’, observa José Fernando Perez, diretor científico da FAPESP. ‘O Programa Genoma FAPESP sempre teve como objetivo a formação de recursos humanos altamente qualificados tanto para a pesquisa em ambiente acadêmico quanto para a geração de empresas.’

No artigo sobre o vírus não faltam exemplos de carreiras acadêmicas consistentes que desaguaram em uma das raras empresas brasileiras de genômica de plantas. Entre os 26 nomes que assinam o estudo, há dois professores universitários licenciados, Fernando Reinach, presidente da Alellyx e diretor executivo da Votorantim Novos Negócios, afastado temporariamente da Universidade de São Paulo (USP), e Jesus Aparecido Ferro, que deixou por uns tempos oslaboratórios da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Jaboticabal para se dedicar à empresa de que é sócio. Paulo Arruda se mantém na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mas com menos atividades do que antes, enquanto Ana Cláudia Rasera da Silva, exigida também pelos cuidados com as filhas Amanda e Mariana, de 5 e 2 anos, deixou a USP. ‘Não dava tempo de fazer tudo direito’, diz ela.

Na equipe que durante dois anos e meio trabalhou nesse vírus há também dez biólogos com doutorado e outros quatro com mestrado, além de 12 estudantes de graduação em biologia. ‘Esse trabalho foi inteiramente financiado pela iniciativa privada, mas só foi possível porque a universidade pública formou esse pessoal’, comenta Reinach. O grupo inclui ainda dois virologistas bastante experientes, que atuaram como consultores: o israelense Moshe Bar-Joseph, atualmente na Organização de Pesquisa Agrícola, em Israel, e Elliot Kitajima, da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, uma das mais respeitadas autoridades brasileiras em virologia de plantas.

Carlos Fioravanti – Agência Fapesp

Leia a matéria completa no site da