Instituto Agronômico desenvolve soja resistente à ‘ferrugem’

A doença atinge 12 estados brasileiros entre eles São Paulo

dom, 27/03/2005 - 12h51 | Do Portal do Governo


Uma nova variedade de soja, mais resistente à doença conhecida como ferrugem da soja, está sendo estudada pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), órgão vinculado à Secretaria Estadual de Agricultura de São Paulo. O instituto é pioneiro em São Paulo no estudo da doença, que já atinge 12 estados brasileiros.

A ferrugem da soja, também conhecida como ferrugem asiática, é causada por uma espécie de fungo, a Phakopsora Pachyrhizi e chegou ao Brasil, mais especificamente em Minas Gerais, no final da década de 70.

Desde 1998 o IAC vem trabalhando no Programa de Melhoramento da Soja, e no ano passado começou a desenvolver estudos com uma variedade de planta com um grande nível de resistência. ‘Foram encontradas algumas linhagens que apresentaram genótipos mais resistentes e estamos com uma expectativa muito grande para desenvolvê-las’, disse a pesquisadora Margarida Fumiko Ito, diretora do Centro de Fitosanidade do IAC. A previsão é concluir os trabalhos em 2008.

Normalmente a doença se infiltra pelas folhas localizadas nas partes mais baixas da planta, que fica amarelada. A doença faz com que as folhas caiam mais cedo do que o normal, prejudicando o crescimento dos grãos e, conseqüentemente, o rendimento e a qualidade da produção.

A pesquisadora alerta que em São Paulo alguns agricultores perderam mais de 80% de suas safras, prejudicadas pela doença. ‘Se não houver um monitoramento constante os agricultores podem perder toda a produção’.

Treinamento

No final de 2004, o IAC realizou um treinamento em conjunto com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), também vinculada à Secretaria da Agricultura, no pólo regional de Assis, para orientar os produtores sobre os sintomas da ferrugem, o ciclo de vida do fungo e como controlar e manejar a aplicação do fungicida.

Segundo Fumiko, a única forma que existe atualmente para combater a praga é por meio de herbicida, que deve ser aplicado, em média, por 25 dias. “Se aplicar no momento errado, o agricultor pode ter que fazer várias aplicações, o que aumenta os custos de produção”.

Ela explica ainda que a principal forma de disseminação da doença é por meio do vento e da umidade. Temperaturas médias menores que 28º graus centígrados e a irrigação das folhas por mais de 10 horas favorecem a infecção da planta. ‘A doença é muito agressiva e rápida e ataca a soja na fase jovem. A aplicação do fungicida deve ser feita logo nas primeiras folhas que apresentarem lesões’, esclarece a pesquisadora.

A doença vem atingindo nos últimos anos plantações nos estados de Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Maranhão, Goiás, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Tocantins, Rondônia, Bahia, São Paulo e Distrito Federal.

Carlos Prado

Técnica ajuda a identificar a ferrugem
A ferrugem da soja pode ser facilmente confundida com as doenças mancha parda, crestamento bacteriano e danos por herbicidas pós-emergentes. Em todos os casos as folhas afetadas amarelam, secam e caem prematuramente dificultando a distinção.

Uma técnica simples pode facilitar a vida dos produtores e técnicos que estão monitorando a evolução da ferrugem a campo.

  1. Coletar as folhas com suspeita de ferrugem, colocar em um saco plástico, soprar um pouco de ar e amarrar a boca, fazendo um pequeno balão (câmara úmida). Devem ser coletadas folhas dos terços médio e inferior das plantas;
  2. Deixar o saco fechado em local fresco, à temperatura ambiente, durante 12 a 24 horas; durante esse período de incubação, o fungo irá produzir os urediniosporos que ficarão acumulados na superfície das urédias (estruturas salientes), tornando-se mais visíveis;
  3. Após o período de incubação, retirar as folhas do saco plástico e, observando a folha contra um fundo claro (exemplo: contra o céu claro), procurar por minúsculos pontos (menos de 0,5mm de diâmetro) de coloração escura a cinza-esverdeada, na parte inferior da folha com o auxílio de uma lupa de 10x a 20x de aumento, ou até a olho-nu. Essas estruturas de frutificação (em relevo na superfície da folha) são as únicas características que permitem diferenciar a ferrugem das outras doenças foliares e lesões de fitotoxidez de herbicidas;
  4. Para facilitar a visualização das urédias com a lupa ou microscópio, fazer com que a luz incida com a máxima inclinação sobre a face abaxial (inferior) da folha, de modo a formar sombra de um dos lados das urédias. Esse procedimento permite a observação das urédias, a campo, mesmo sem o auxílio da lupa de bolso.

Fonte: Embrapa soja