Fapesp: Estudo analisa trajetória de Carmen Miranda no Brasil e EUA

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qua, 09/02/2005 - 20h07 | Do Portal do Governo

Como a ressaltar que ela era mais notável do que pequena, num artigo que escreveu para o jornal norte-americano The New York Times sobre a cantora e atriz Carmen Miranda (1909-1955), Caetano Veloso analisou-a como um ícone do dilema de toda uma geração quando o assunto era a imagem que o Brasil tinha lá fora: ‘Ela foi, primeiro, motivo de orgulho e vergonha, depois símbolo da violência intelectual com que queríamos encarar a nossa realidade, do olhar implacável que queríamos lançar sobre nós mesmos. Tínhamos descoberto que ela era nossa caricatura e nossa radiografia’. Até hoje a ‘embaixadora do samba’ habita, como as calçadas em ondas de Copacabana, o imaginário ianque sobre o país. A trajetória da portuguesinha que virou baiana estilizada, conquistou o Brasil de Vargas e depois a América é o tema de O ‘it verde e amarelo’ de Carmen Miranda , tese de doutorado de Tânia da Costa Garcia, agora transformada em livro com apoio da FAPESP.

‘A polêmica sobre a baiana estilizada é reveladora da crise que temos com nossa identidade. Carmen é uma caricatura, mas é, ao mesmo tempo, o que somos: subdesenvolvidos, tropicais, mestiços, dionisíacos’, explica. Segundo Tânia, apesar do tamanho diminuto, ela foi, desde o início de sua carreira, uma ‘arma cultural’ usada tanto pelo Estado Novo varguista como pelo pan-americanismo de cunho expansionista dos norte-americanos, cuja pílula foi dourada com a política de boa vizinhança. Com razão Hollywood a chamava de ‘ brazilian bombshell ‘, tamanho o seu poder de fogo em servir, mesmo que de forma inconsciente, a interesses ideológicos. De início, no Brasil, ela foi a catalisadora do movimento oficial de nossa transformação em ‘terra do samba’.

Arrancado do morro, o samba, antes ‘coisa de marginal’, foi entronizado, em meio ao debate sobre a identidade brasileira dos anos 1930, como símbolo da nacionalidade em oposição à crescente influência da cultura estrangeira trazida, se acreditava, com a chegada do cinema falado (basta lembrar do samba Canção para inglês ver , de Noel Rosa, com suas alusões a ‘I love you/ To via steven Via-Catumbi’ etc.). A própria Carmen cantava em Eu gosto da minha terra que ‘sou brasileira/ e o meu sabor denuncia/ que sou filha desse país/ o fox-trot/ não se compara/ com o nosso samba, que é coisa rara’.

‘A carreira de Carmen se estrutura num período em que os meios de comunicação passam a ter um papel significativo na capital da República. Isso coincide com a política nacionalista do governo Vargas, que, atento ao poder dos veículos de comunicação, fez questão de se aproximar do universo simbólico das camadas menos favorecidas para se tornar o governante das massas’, analisa Tânia. O samba vira assunto de Estado, ou melhor, o samba carioca, difundido como o samba brasileiro pelas ondas do rádio. ‘O samba, eleito como símbolo do ‘povo novo’, tornava transparente as fronteiras sociais que a política populista insistia em esconder atrás da unidade nacional’, observa a autora.

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