Espetáculo “Poeira de Estrela” encerra Semana da Solidariedade

Lu Alckmin assistiu à peça com crianças carentes das entidades visitadas.

sex, 30/09/2005 - 19h32 | Do Portal do Governo


Amor, morte e doação de órgãos são os temas da peça “Poeira de Estrelas”, do projeto Teatro Jovem, que encerrou a Semana da Solidariedade com apresentação no Palácio dos Bandeirantes, nessa sexta-feira, dia 30.

O espetáculo conta a história de Gabriel e Valquíria. Ele aguarda um transplante de medula e, internado há oito anos, conhece todos os pacientes, médicos e caminhos do hospital. Valquíria é uma jovem radiante que está perplexa com o mundo à sua volta e com as novas responsabilidades que estão por vir, acabou de ser internada e espera um transplante de fígado.

Marcados pela sombra da morte e pela juventude, os dois são surpreendidos pelo destino quando precisam dividir o mesmo quarto de hospital. Nesse encontro recheado de humor e implicâncias, pontuado por crises e discussões, os personagens resgatam aspectos e valores essenciais ao ser humano, trocam experiências e expectativas, discutem suas posturas diante do mundo, a família, a amizade, a solidariedade, o amor, a compreensão e acabam se apaixonando. Juntos, driblam o tempo e reaprendem o significado de estar vivo e a importância de fazer valer a própria existência.

A peça pretende estimular a consciência do público em relação à doação de órgãos, mostrar aos jovens que pequenas atitudes podem colaborar para a construção de um mundo melhor e mostrar a necessidade de se aproveitar cada minuto da vida.

O espetáculo foi assistido por crianças carentes das entidades visitadas durante a Semana da Solidariedade. Lu Alckmin, presidente do Fundo Social de Solidariedade (Fussesp), colaboradores e parceiros do projeto também prestigiaram o espetáculo.

Durante essa semana, Lu Alckmin visitou 12 entidades que cuidam de crianças carentes, crianças especiais e crianças com câncer e portadoras de HIV. Ainda levou 2.200 crianças para se divertirem, durante um dia inteiro, no parque temático Hopi Hari, em Vinhedo.

O objetivo da Semana, que é envolver e sensibilizar a sociedade para a disseminação de ações de solidariedade e responsabilidade social para com as crianças foi alcançado com êxito. “Teve entidade que eu visitei, onde mal se conseguia entrar de tantas doações que tinha recebido. Eram caixas de roupas, alimentos, medicamentos, brinquedos, tudo para as crianças”, contou Lu Alckmin, idealizadora da Semana da Solidariedade.

Entidades visitadas

Uma casa, numa pequena rua do bairro da Mooca, onde a maior preocupação é o bem-estar e a realidade social de 32 crianças e adolescentes carentes. Esse é o Lar Dona Cotinha, fundado em 1992, que Lu Alckmin visitou no último dia da Semana da Solidariedade deste ano.

Diferentes histórias que convivem sob o mesmo teto. Como a de Valéria*, 16 anos, que sofria abuso do padrasto. Ela foi morar com ele e sua companheira após sua mãe lhe abandonar. A namorada do padrasto percebeu que a menina, na época com 12 anos, andava estranha. Até que, depois de muita insistência, conseguiu fazer com que Valéria lhe contasse o que estava acontecendo. Denunciou seu companheiro e encaminhou Valéria para a Vara da Infância que, por sua vez, a levou para morar no Lar Dona Cotinha.

Quando chegou no Lar, Valéria era muito “fechada” e tinha medo do contato com homens, mesmo com seus professores da escola. Passou por tratamento psicológico por cerca de três anos e hoje está bem melhor. Fez amigos no lar e se esforça nos estudos.

Lá, vivem também as gêmeas Carolina* e Mariana*, de 10 anos. As meninas nunca conheceram seu pai e sua mãe foi presa por tráfico de drogas. Viviam com a avó e um tio, que eram alcoólatras. Após uma vizinha denunciar os parentes das garotas, o Fórum as encaminhou para o Lar Dona Cotinha, onde hoje são muito felizes. Durante a visita de Lu Alckmin e outros parceiros, as duas eram pura alegria: “Estou adorando esta festa, vamos apresentar uma dança”, contou animada Carolina. A avó e o tio as visitam freqüentemente.

Histórias tristes, mas que graças ao trabalho de pessoas que acreditam num futuro melhor, têm uma chance de ter um final feliz. Assim pensa Claudia Miriam Aguiar, coordenadora do Lar há dez anos. “As crianças precisam desse carinho. Se todo mundo se unir, a gente consegue melhorar a vida delas”, afirma Claudia, que é neta de Dona Cotinha.

Lu Alckmin e Arlete Arce, coordenadora da Semana da Solidariedade pela Secretaria de Recursos Hídricos, aproveitaram a ocasião para inaugurar a nova ala do Lar, restaurada pelo DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica). A obra, que estava parada há seis anos, agora é uma área com dormitórios, banheiros, salas e um jardim com brinquedos para as crianças.

Saindo da Mooca, Lu Alckmin foi visitar a Prohacc (Associação Proteção Habitacional para Crianças Carentes), em Pirituba. Lá, a superintendência da Polícia Científica anunciou que, a partir de hoje, “adota” todas as crianças da Associação por um ano. São 57 crianças, sendo 42 na unidade visitada, e outras 14 na unidade de Perus. A novidade causou alvoroço e euforia em todos.

Como todo adolescente, Natalia*, de 15 anos, tem seus sonhos. A menina mora na Prohacc há mais de um ano e conta que quer ser médica quando crescer. “Quero ser pediatra para poder ajudar muitas crianças”, afirmou. E já está treinando com as crianças da Associação, que ela ajuda a cuidar. Natalia é órfã e o único parente que conhece é uma tia, com quem não tem contato.

Waldir*, 16, mora na Associação há três anos, pois sua mãe não tem condições de criá-lo. Tem dois irmãos, o mais novo mora com a mãe e o mais velho morou no Prohacc até os 18 anos. Hoje trabalha como comerciante. Waldir está na 8a série e treina para ser jogador de vôlei profissional. Também quer estudar para ser professor de Educação Física. Há pouco tempo, ele conseguiu autorização da Vara da Infância para passar os fins de semana na casa de sua mãe, mas nas noites de domingo volta feliz para a Associação. “Gosto muito daqui, tenho muitos amigos, aqui é minha verdadeira casa”, afirma.

“Nosso objetivo aqui no Prohacc é abrigar, educar e assistir as crianças para prepará-las para a maioridade”, ressalta Miriam Mendonça Tavares, coordenadora pedagógica da Associação. “Queremos que nossas crianças saiam daqui e façam suas vidas, constituam família”, completa.

Miriam é uma entusiasta da Semana da Solidariedade. “É uma iniciativa maravilhosa. Mostra como nosso trabalho é importante e como precisamos uns dos outros. É a partir da união que vamos para frente”, disse.

“Hoje encerro a Semana da Solidariedade com um balanço positivo. E ressalto que a Semana termina, mas o trabalho não. O objetivo deste projeto é justamente chamar a população a refletir sobre a importância de desenvolver ações de solidariedade e responsabilidade social para com as crianças e isso tem que ser para o resto de nossas vidas”, afirmou Lu Alckmin.

*Os nomes usados são fictícios.

Adriana Fares