Escola de informática dá lições de cidadania na Estação Lapa da CPTM

EIC incentiva alunos a desenvolverem projetos em cursos de três a quatro meses, com duas aulas por semana

sex, 11/03/2005 - 15h12 | Do Portal do Governo

Um sobradão de tijolinho aparente da Estação Lapa da CPTM (construído em 1898 e tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico) é um dos mais novos centros de exercício da cidadania em São Paulo. Ali está instalada a Escola de Informática e Cidadania (EIC).

A iniciativa é uma parceria entre a CPTM, a Alstom (empresa de energia e transportes) e o Comitê de Democratização da Informática (CDI), uma organização não-governamental. Com espaço cedido pela CPTM, a Alstom (responsável pela idéia da parceria) custeou as despesas com o educador, além de doar os móveis. O CDI doou dez computadores, duas impressoras e um scanner. Em fevereiro de 2004, quando o curso começou na Lapa, as aulas foram destinadas apenas para os bolsistas do Programa Frente de Trabalho, do governo do Estado, que prestam serviços à CPTM. Neste ano, o projeto foi reformulado e ganhou mais força, com a criação de mais vagas. A duração do curso também aumentou, passando de três para quatro meses, com duas aulas por semana, para que os alunos tivessem mais tempo para desenvolverem seus projetos.

As aulas em 2005 começaram em janeiro, com 74 alunos matriculados, divididos em oito turmas: 35 da Frente de Trabalho, 13 alunos vindos de comunidades próximas, 11 funcionários da Alstom e 19 de outras empresas prestadoras de serviço da CPTM. A meta para este ano é treinar 260 alunos.

Um deles é Paulo Henrique Santos Silva, de 28 anos, que trabalha como limpador de vidros na Tejofran, empresa que presta serviços à CPTM. ‘Eu pedi para a encarregada e ela me liberou duas vezes por semana para as aulas. A gente tem que aproveitar essas oportunidades. Eu sempre quis mexer no computador e achava que nunca fosse conseguir. Agora, quero me atualizar cada vez mais’.

Lição de cidadania – O curso não tem caráter didático, mas sim de desenvolvimento pessoal. Os alunos escolhem um projeto e aprendem a mexer no micro enquanto desenvolvem o projeto. ‘O objetivo das EICs é juntar conhecimento tecnológico e cidadania. Por isso trabalhamos com projetos de ação para impacto na sociedade’, explica Leonor Fernandes, instrutora da EIC CPTM.

Leonor é instrutora do CDI há seis anos. Decidida a aproveitar seus conhecimentos de informática para ajudar as outras pessoas, pesquisou na Internet sobre inclusão digital e acabou descobrindo o CDI. ‘O resultado das aulas é incrível. Às vezes eu até me surpreendo com o empenho e a criatividade dos alunos. Tem um grupo aqui da manhã que está desenvolvendo um projeto muito interessante. A proposta é criar uma carta aos pequenos e médios empresários locais, sensibilizando-os da importância de investir no empregado. Enquanto aprendem a utilizar o Word e o Excel desenvolvem o sentido de cidadania’.

Além das noções de informática, o curso traz questões relacionadas à cidadania, aos direitos humanos, ao meio ambiente e à utilização do nosso sistema de transporte. Como uma lição de cidadania, alunos que não teriam condições de pagar uma escola particular, vêm uma chance de crescer profissionalmente e trilhar um futuro melhor.

Mais EICs na CPTM – A EIC da Lapa é aberta à comunidade, como todas as outras, mas a princípio, a prioridade é atender a comunidade interna. ‘Temos uma grande população de prestadores de serviços. Depois que atendermos esse público, abriremos totalmente à comunidade’, explica Elmano Antônio de Oliveira Santos, coordenador da EIC CPTM.

O requisito para se inscrever é ter uma renda mensal familiar de até três salários mínimos. A maioria tem entre 14 e 45 anos, mas não há limite quanto à idade. Segundo Elmano, pelo menos 90% das pessoas que procuram o curso têm conhecimento zero em informática.

Roque Veronesi é prova disso. Com 60 anos e desempregado, mesmo tendo trabalhado sempre em escritório, não sabia nada de informática. ‘Li no jornal que havia aulas grátis de informática na Estação da Lapa e me interessei. Me inscrevi e agora que já terminei o curso básico, fui o primeiro a me candidatar a uma vaga no curso avançado de Excel que será dado às sextas-feiras. Agora tenho mais chance de conseguir um emprego’.

O vidraceiro desempregado Rogério Gouveia Pereira Junior ficou sabendo do curso por meio de uma conhecida. ‘Até já tentei mexer no micro, mas nunca me acertei com ele’, brinca.’O curso veio em boa hora, pois vou tentar realizar um sonho de fazer um curso de webdesigner. Quem sabe posso até mudar de profissão, e arrumar emprego mais rápido’.

O próximo passo, segundo Elmano, será abrir também aos alunos, o acesso à Internet e criar outras EICs em outras estações da CPTM.

Andréa Barros
Da Agência Imprensa Oficial