Agricultura: IAC lança arroz que apresenta maior produtividade e resistência a doenças

Novas variedades serão mostradas aos produtores hoje, em Pindamonhangaba, no Dia de Campo de Arroz

qui, 17/03/2005 - 8h36 | Do Portal do Governo

Aumentar os lucros em 10% e afastar doenças que sempre geram prejuízos são oportunidades que estão chegando para os agricultores com as novas variedades de arroz que serão lançadas pelo Instituto Agronômico (IAC). A IAC 105 e IAC 106 – variedades de arroz tipo tradicional para cultivo em sistema irrigado por inundação – serão lançadas nesta quinta-feira, dia 17, das 9h às 16h, em Pindamonhangaba, no Dia de Campo de Arroz. Durante o evento, os participantes terão acesso a novas tecnologias de cultivo e colheita e contato com especialistas da área.

As novas variedades destacam-se por ter produtividade superior, moderada resistência à brusone e qualidade de grãos que atende aos padrões da indústria e do consumidor. A nova variedade IAC 105 supera em 9,8% em produtividade as duas variedades que atualmente são cultivadas na região do Vale do Paraíba, principal área de produção no Estado, e que serviram de testemunhas durante a pesquisa. Já a IAC 106 produz 7% a mais que as testemunhas, que são as variedades com as quais é comparado o novo material.

‘Pensando só em termos de produtividade, o produtor terá cerca de 10% a mais de lucro’, afirma o pesquisador do IAC, Luiz Ernesto Azzini, ao destacar uma das vantagens da nova variedade IAC 105. Ele destaca que a maior produtividade resulta em menor custo de produção por saca. Falando nisso, é bom lembrar que as despesas também são reduzidas no cultivo desses novos materiais em função da dispensa ou da redução dos defensivos, já que as variedades IAC são moderamente resistente à brusone – principal doença do arroz.

De porte baixo e ciclo intermediário (135 dias do plantio à colheita), a IAC 105 produz 6.500 kg por hectare e a IAC 106, 6.300 kg/ha. As variedades apresentam também qualidade de grãos industrial e culinária que atendem aos padrões nacional e internacional de mercado.

A qualidade industrial está relacionada ao rendimento de grãos inteiros no beneficiamento. A IAC 105 tem rendimento em torno de 60% e a IAC 105, 59%. Ressalta-se que a qualidade industrial reflete na comercialização do produto e no ganho do rizicultor, já que o preço da saca é fixado com base em ponto por grão inteiro. Os grãos inteiros garantem o bom visual do produto, indispensável para a aceitação no mercado. Os pesquisadores explicam que a qualidade industrial depende não só da genética da planta, mas também do ambiente de produção.

Outro aspecto do produto é a qualidade culinária, ou seja, como o arroz chega ao prato do consumidor, que prefere o arroz solto e macio, além de sabor e textura agradáveis. Atendidas a essas exigências, o arroz é valorizado pela indústria e pelos consumidores.

A IAC 105 e a IAC 106 destacam-se também por terem sido desenvolvidas para cultivo no Estado de São Paulo. Para a cadeia produtiva do arroz, a vantagem de se plantar variedade adaptada às condições edafoclimáticas paulistas é a certeza de que essas variedades terão bom desempenho. Ao investir em variedades importadas de outras regiões – como ocorre com freqüência – o rizicultor abraça um lucro imediato, que pode cair rapidamente com o aparecimento de doenças. Isso porque as variedades vindas de outras localidades oferecem dois riscos ao serem plantadas em São Paulo: o lucro pode ser passageiro e a planta pode trazer doenças que acarretem altos prejuízos. ‘A importação de material não estudado no local importa também risco de doenças. Lá (na origem do material) pode haver raça de brusone que com aquele ambiente não causa estrago, mas em São Paulo as interações climáticas podem ser mais patogênicas’, alerta o pesquisador do IAC, Cândido Ricardo Bastos.

Com essas novas opções desenvolvidas para o Estado de São Paulo, o IAC, órgão da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, espera estimular os produtores paulistas a cultivarem arroz e, assim, ampliar a área de plantio, que atualmente atinge cerca de 15 mil hectares, com concentração no Vale do Paraíba. São Paulo é o maior consumidor de arroz do País, garantindo mercado a quem se dedicar ao setor.

Os interessados em cultivar as novidades IAC terão sementes disponíveis a partir da próxima safra – julho/agosto deste ano. Os pesquisadores alertam para a importância de os produtores adquirirem sementes de fontes seguras, evitando atravessadores, já que o sucesso da lavoura depende da qualidade da semente.

Dia de Campo de Arroz

Oportunidade para conversar e tirar dúvidas junto aos pesquisadores e ainda informar-se sobre as tecnologias que envolvem máquinas, fertilizantes, herbicidas e fungicidas. No Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios do Vale do Paraíba, onde será realizado o Dia de Campo de Arroz, o público ainda poderá visitar os campos de demonstração das duas novas variedades de arroz tradicional e outras duas do tipo especial – a IAC 400, arroz para culinária japonesa, e a IAC 600, arroz preto. Ambas já foram apresentadas ao público e serão oficialmente lançadas durante o evento.

A IAC 600, primeira variedade de arroz preto desenvolvida para cultivo em São Paulo foi apresentada pelo IAC no ano passado. Até então, não existia nenhuma variedade brasileira desse tipo exótico de arroz – o que se consome no país é material importado.

Com esse resultado gerado no IAC, abrem-se novos mercados para os produtores atingirem um nicho específico, com potencial no consumo interno e externo, já que o arroz preto tem amplo mercado na Europa e Estados Unidos.

Desenvolvida para o cultivo em São Paulo em condição de arroz irrigado e sequeiro, a IAC 600 é produzida da mesma forma que o arroz tradicional e com igual custo de produção. A principal diferença está no preço: o quilo do arroz preto importado custa cerca de dez vezes mais que o arroz tradicional. Quanto às características agronômicas, a IAC 600 é um material altamente resistente à brusone, tem porte baixo e é precoce, com cerca de 85 dias do plantio à colheita.

Para o consumidor, a IAC 600 é agradável ao paladar, com aroma e sabor acastanhados, em grãos inteiros e muito macios. Comparado com o arroz integral, a novidade supera a quantidade de proteínas, de fibras e de carboidrato, além de ter menor valor calórico e menos gordura. A IAC 600 tem dez vezes mais compostos fenólicos, que beneficiam a saúde humana, que o melhor material já analisado em testes na Universidade do Texas.

IAC 400

Outra variedade a ser vista pelos participantes do Dia de Campo de Arroz é a IAC 400, especial para a culinária japonesa, a primeira desse tipo selecionada para o cultivo em São Paulo.

A IAC 400 foi selecionada para atender ao nicho específico de mercado – a culinária japonesa, especialmente para produção de sushi. Esse tipo de arroz é o que apresenta maior demanda dentre os tipos especiais de arroz . Os demais especiais são o arroz aromático, o exótico e o arbóreo (rizotto).

Apesar da grande demanda, até então, não havia nenhuma variedade especial selecionada para o cultivo em São Paulo. O Estado tem condições de clima favoráveis para esse tipo de arroz, com padrão compatível com a produção da melhor região do Japão. Por enquanto, as variedades cultivadas em campos paulistas vêm de outros estados ou são importadas de outros países. Esse fator, além de encarecer o produto, tem outra agravante: as variedades importadas não são adequadas para as características de solo e clima paulistas, além de serem suscetíveis a doenças.

Segundo o pesquisador do IAC, Cândido Ricardo Bastos, a nova variedade IAC tem qualidade excelente, comparada aos melhores materiais importados, especialmente para fazer sushi. A IAC 400 é moderamente suscetível à brusone, enquanto os materiais importados são altamente suscetíveis a essa doença.

A variedade apresentou uma produtividade média de 5200 kg por hectare, equivalente aos tipos tradicionais. Para o tipo especial essa produtividade é considerada excelente. De acordo o pesquisador do IAC, Luiz Ernesto Azzini, os materiais importados não ultrapassam 2000 kg/ha. Outras características dessa variedade são ciclo intermediário, de 120 a 130 dias do plantio à colheita, porte baixo, com 97 cm em média, e grão médio, com 5 ou 6 milímetros de comprimento.

A forma de cultivo é o plantio tradicional de arroz irrigado por inundação, chamado arroz de várzea. ‘O produtor de arroz irrigado não precisa mudar nada, não precisa investir em nada – é uma simples troca de uma variedade por outra’, afirma Bastos.

O Programa de Melhoramento de Arroz do Instituto Agronômico funciona desde 1935. Na última década, tornou-se mais eclético em atendimento às exigências de mercado e visando a cadeia produtiva. Nos últimos dez anos, seis novas variedades foram selecionadas, sendo cinco do tipo tradicional e uma do especial. A última variedade lançada, em 2001, é a IAC 500, arroz aromático que também é do tipo especial.

Instituto Agronômico de Campinas (IAC) – Assessoria de Imprensa
Por Carla Gomes

(LRK)