Serra discursa na inauguração da Biblioteca de São Paulo

Governador José Serra: Queria dar o meu boa tarde a todos e a todas. Vocês sabem que a Secretaria da Cultura, no nosso Governo, foi a que teve o maior […]

ter, 09/02/2010 - 15h15 | Do Portal do Governo

Governador José Serra: Queria dar o meu boa tarde a todos e a todas. Vocês sabem que a Secretaria da Cultura, no nosso Governo, foi a que teve o maior crescimento orçamentário. Não gosto de falar isso porque aqui está cheio de secretários. O orçamento de 2010 – não o executado, que sempre tende a ser maior – comparado com o de 2006, mostra uma elevação de 2,4 vezes do orçamento da Cultura. Isso, deflacionado, o que quer dizer, em termos reais, bem mais do que duplicou o orçamento da Cultura. É curioso, porque são dados ignorados, mas foi a atividade que teve mais expansão entre todas as Secretarias do Estado. Isso, evidentemente, é uma política do Governo com relação à Cultura, mas tem muito também a ver com o (secretário de Economia e Planejamento do Estado, Francisco) Luna, que é pesquisador, autor de livros e foi parceiro do (secretário de Cultura do Estado, João) Sayad no Ministério do Planejamento e na Secretaria da Fazenda do passado.

Eu falava da expansão da Cultura – e acho que vale a pena, em uma ocasião como esta, fazer uma recapitulação breve. Nós criamos ou reformulamos meia dúzia de museus. O Museu do Futebol, que está incorporado hoje ao patrimônio cultural do Estado e da cidade. O Catavento, que é um centro de tecnologia para criança e adolescente, faz parte de uma rede mundial daquilo que se chama, impropriamente, Museu da Criança – e que é extraordinário, funciona lá no parque Dom Pedro, na antiga sede do Palácio das Indústrias, Assembléia Legislativa e Prefeitura de São Paulo. A modernização do MIS (Museu da Imagem e do Som de São Paulo), que mudou realmente o museu tal como ele era. A transferência do Museu de Arte Contemporânea (MAC), de grande parte do seu acervo, para o antigo prédio do DETRAN (Departamento Estadual de Trânsito), que foi feito como museu e passou a ser utilizado como Departamento de Trânsito – e que volta para o Estado para funcionar como Museu de Arte Contemporânea, abrindo o acervo que é da USP (Universidade de São Paulo) e de difícil acesso. Nós agradecemos aqui o reitor (João) Grandino (Rodas), publicamente, a cooperação da USP nisso. É uma coisa que vai enriquecer muito o espaço de educação cultural e de lazer cultural da população do nosso Estado e do Brasil.

(E temos ainda) o Museu da Memória da Resistência, lá perto da Estação da Luz. O projeto de expansão da Pinacoteca já está decidido, tem recursos. Eu agora perguntava para o (secretário de Cultura do Município de São Paulo, Carlos Augusto) Calil como é que anda a nossa Biblioteca Mário de Andrade, que foi talvez a primeira iniciativa que anunciei no plano cultural, quando fui eleito prefeito (de São Paulo). E o projeto que havia não era bom, tivemos que refazer. Mas foi reformulado e até hoje não foi concluído. Eu perguntei para o Calil quando é que inaugura. Ele disse que agora tem problema com uma escada de incêndio, que não estava prevista. É um prédio que tem patrimônio histórico, então é complicadíssimo, mas finalmente me garante o (prefeito de São Paulo) Gilberto Kassab que conclui até o final do ano.

Há ainda outras iniciativas, outras coisas novas. A São Paulo Companhia de Dança, que nós criamos – eu fui ao festival que é único no Brasil, em Santa Catarina, em Joinville, e vi a escola de dança como das melhores, das mais apreciadas, o que é extraordinário porque ela deve estar funcionando há uns dois anos, uma escola que em dois anos já ganha uma projeção nacional como essa significa que começou bem. E, ao lado da Escola de Dança, que já está funcionando, paralelamente nós estamos encaminhando o Teatro da Dança em São Paulo, que vai ficar no lugar da antiga rodoviária, em frente à Sala São Paulo, e que vai, quando funcionar plenamente, abrigar 5 mil jovens por dia, para dança e para música. São 3 auditórios, 3 salas, sem contar as salas para ensaio e tudo mais. É realmente algo espetacular em matéria de oportunidades culturais que vai abrir. Deve-se dizer, totalmente grátis para nossa juventude, para toda nossa população.

Criamos também a São Paulo Companhia de Teatro, cujo prédio onde vai funcionar está sendo reformado, na Praça Roosevelt. Era um prédio, eu creio, de apartamentos, muito feio. Mas uma coisa eu devo reconhecer, que nossos arquitetos são muito bons para transformar um prédio usado, feio, em alguma coisa boa. É um grande talento dos nossos arquitetos nessa área.

Mas se eu tivesse que dizer o que mais me orgulhou como prefeito, e uma das (obras) que mais me orgulhou na vida pública, é o Centro Cultural da Juventude na Vila Nova Cachoeirinha. Eu conheci aquilo como um mercado inacabado, que vinha da época do (ex-prefeito) Jânio (Quadros), de 1988, como foco de sujeira, de ratos e de deterioração. Nós transformamos aquilo, com a EDIF (Departamento de Edificações) da Prefeitura, em um prédio maravilhoso, diferente, porque para fazer o que era mercado virar um Centro Cultural precisa ter muito talento. É um centro que eu faço questão de sugerir a todos que visitem, porque abriu um ponto de encontro. Inclusive, o que eu queria lá era um lugar em que os jovens pudessem se encontrar, porque aquela área lá foi toda feita de ocupações ilegais. Não há uma praça em toda a região. Pois foi feito o Centro Cultural, que não é só um ponto de encontro, é um Centro Cultural hiper-ativo, de muito boa qualidade que nós rebatizamos com o nome da Ruth Cardoso, porque ela era fanática por este centro.

A São Paulo Escola de Teatro começa os seus cursos agora em março – e vai funcionar por enquanto em um prédio emprestado, mas futuramente lá na Praça Roosevelt mesmo. E o pessoal docente, administrativo, em sua grande maioria vem também das companhias de teatro daquela praça. Outra iniciativa importante do João Sayad – eu quero dizer aqui que todas essas iniciativas foram se viabilizando graças ao João que, ou pegou a ideia e tocou, ou teve a ideia, como é o caso da Companhia de Dança – é a Virada Cultural. Nós inauguramos aqui na Capital, e ela se desenvolveu plenamente na gestão do Kassab e graças à ação do Carlos Augusto Calil, que é indiscutivelmente o grande responsável pelo tremendo sucesso do evento. E nós estamos levando para quase 30 cidades agora, neste ano, auxiliando, dando apoio, porque esta é uma ação que deveria ser exclusivamente municipal, mas da mesma maneira que a gente apóia na Capital, estamos agora apoiando, já é o terceiro ano, e agora com mais cidades, em todo o interior.

Como eu disse, o projeto Guri se expandiu. Quantos alunos mais? Oito mil aqui em São Paulo e 50 mil no Estado. Mas a expansão será aqui, principalmente, vai passar para 15 mil. E o projeto de Fábricas de Cultura, que veio do Governo (Geraldo) Alckmin, com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), e que coube a nós começar e ao João Sayad dar o formato atual. São 9 Fábricas de Cultura – algumas já estão em funcionamento, outras projetadas – enfim, o projeto está em andamento em todos os bairros mais carentes da cidade de São Paulo, com espetáculos que vale a pena ver. Assisti pela qualidade e também por observar o efeito que provoca na juventude – em matéria de autoestima, em matéria de aprendizado diretamente – porque no fundo está formando, em grande parte, profissionais – e na população, que pode curtir esses espetáculos.

Enfim, como vocês vêm é muita coisa – e agora se soma esta Biblioteca. Uma Biblioteca que foi ideia do Sayad também. Aqui no Parque da Juventude foi criada uma área esportiva, ainda no Governo Alckmin, que é muito boa. Foi criada uma área de ensino, que coube a nós implantar. Foi a Escola Técnica das Artes, que está funcionando aqui, que foi implantada em 2008. Tem cursos de administração empresarial, canto, dança, design de interiores, eventos, gestão de pequenas empresas e regência inclusive, além de secretariado e assessoria. Vocês vêm que está ajustada, digamos, com a companhia de uma biblioteca do lado. A ETEC, para quem não sabe, é uma Escola Técnica de um ano e meio, de nível médio, não substitui o Ensino Médio, mas complementa o Ensino Médio, porque os alunos que fazem ETEC melhoram o seu rendimento no Ensino Médio na hora – e dá uma profissão. De cada 5 alunos que terminam uma ETEC, 4 conseguem emprego praticamente em seguida, o que é uma demonstração da importância disto. E aqui nós criamos uma ETEC especialmente voltada às artes, que tem funcionado estupendamente bem.

Por último, para falar de coisas novas, há algo que não é novo, mas é novo no Estado e novo também porque resolvemos o problema de uma vez, que é o Museu Afro (Brasil). Vivia sempre agoniado nas mãos do nosso especialíssimo Emanoel Araújo, e agora está abrigado dentro do Governo do Estado, que é um museu… não preciso me alargar aqui a respeito da originalidade e da qualidade, mas se incorporou ao acervo de museus do Estado.

E nem estou mencionando coisas do interior. Um dia fui a Piracicaba inaugurar o Museu (Histórico e Pedagógico) Prudente de Moraes, bancado pelo Estado e que vai ser mantido pela Prefeitura. Na semana passada eu fui a Itu, por iniciativa da Universidade de São Paulo, estava lá o reitor Grandino, (para ver) o Museu Republicano. E por todo lado, (com) recursos do Estado, multiplicam essas iniciativas no plano cultural.

Para mim, para a minha formação, biblioteca foi algo decisivo. Eu freqüentava a Biblioteca Mário de Andrade a partir do segundo, terceiro ano do então ginásio, que corresponde hoje à sexta, sétima série. E pegava (livro) emprestado na biblioteca rotativa, que ficava em uma sala circular, e ia ler os livros que não podiam ser retirados, que era uma fração pequena do total. Freqüentei a biblioteca até quando me envolvi muito com política estudantil.

Depois, no exterior, quando eu fui fazer o doutorado nos Estados Unidos, meu orientador tinha uma sala na biblioteca para ele. Ele não usava, então me deu a sala. Eu passei lá dois anos enfiado em biblioteca, o que me provocava uma dispersão enorme, porque toda a vez que eu entrava para ir para a sala minha tendência era pegar um outro livro para poder ler, porque lá podia levar o livro para a sala e na sala podia ficar o tempo todo. E a biblioteca é algo realmente que acompanhou toda a minha formação intelectual e de conhecimento.

Quando o João Sayad propôs aqui uma biblioteca eu apoiei entusiasticamente. Uma biblioteca moderna, nova, que, eu confesso, nem entendi direito tudo sobre o seu funcionamento. E ela tem uma particularidade, atestada pela nossa secretária especial (dos Direitos das Pessoas com Deficiência), Linamara (Battistella). Segundo ela – eu não gosto de ser tão oba-oba assim – é a Biblioteca com maior acessibilidade do mundo. É a maior autoridade que nós temos em São Paulo nessa matéria, fica por conta dela a afirmação.

Mas isso corresponde, além do mais, à nossa orientação, à nossa batalha, porque é uma verdadeira batalha a questão do deficiente físico que precisa não é só de ação governamental, mas também ganhar a consciência da sociedade e de todas as esferas da administração pública em cada Município, em cada Subprefeitura. Enfim, permear, digamos, a alma da nossa sociedade civil e, chamemos assim, de todas as esferas de Governo. Essa Biblioteca é um bom exemplo desse tipo. Como é, aliás, o Museu do Futebol. Como é, aliás, o Catavento – e todas as coisas novas que foram feitas, porque aí é mais fácil, porque gasta-se muito pouco para tornar algo acessível. O que se gasta muito é reformar… Aqui tem inclusive (acessibilidade) para deficiente visual, tem para conversão para Braille, que eu vi em um livro de computador. Um conjunto de coisas realmente muito novas que eu nem sabia que existia.

Queria, portanto, me congratular com a Secretaria da Cultura e me congratular com o nosso Governo mesmo. Me congratular com o pessoal da área de bibliotecas e me congratular com todos nós aqui, porque vamos curtir direta ou indiretamente esta iniciativa.

Muito obrigado!