Governador discursa durante assinatura de convênios com municípios

Governador José Serra: Queria dar o meu boa tarde a todos, a todas, e hoje acaba sendo uma semi-despedida, porque a despedida mesmo é amanhã. Mas uma despedida mais íntima, digamos […]

ter, 30/03/2010 - 17h00 | Do Portal do Governo

Governador José Serra: Queria dar o meu boa tarde a todos, a todas, e hoje acaba sendo uma semi-despedida, porque a despedida mesmo é amanhã. Mas uma despedida mais íntima, digamos assim, com a outra história de poder em São Paulo, que são os municípios e também a Assembleia Legislativa que está em peso aqui. Daria para deliberar, provavelmente, pelo número de parlamentares presentes. E eu me sinto muito gratificado, (pois) eu acho que nós trabalhamos direito com os municípios. Trabalhamos direito porque temos uma concepção correta, que é a da descentralização, que é de não usar as parcerias com os municípios para barganhas políticas e fisiológicas, que é não colocar no meio dessas relações a intermediação oportunista de natureza partidária. Isso é uma postura diante dos municípios.

Por outro lado, tivemos a organização correta, boa do Governo nisso, através da ação do Aloysio Nunes (Ferreira, secretário estadual da Casa Civil), como muitos já sublinharam aqui, e do secretário (estadual de Economia e Planejamento, Franscico) Luna, que ficou com o abacaxi operacional na mão dele, que é tremendo: a execução dos convênios, uma coisa complicada e que nós tivemos que montar uma nova tecnologia para poder atender o volume que se apresentou, isso foi fundamental. A equipe do Aloysio, eu me lembrei de um filme do (ator e diretor norte-americano) Charles Chaplin, “O grande ditador” que, quando começa, estão os alemães no campo de batalha, e tem o marechal alemão com aquele chapéu, com aquela ponta, aquele capacete, então tem que avançar. Aí ele vira para o general, o general vira para o coronel, o coronel vira para o capitão, o capitão vira… Em último está o Chaplin lá e é ele que tem que avançar. Ele olha para trás, não tem ninguém, então é ele que tem que ir. No Governo, isso existe muito, inclusive em relação à ação dos municípios. E os candidatos aqui, o soldado que não tem mais para quem virar, são o (Rubens) Cury (da Casa Civil) e o Jayme (Gimenez,assessor especial).  E o marechal, infelizmente, sou eu, era eu. O Aloysio e o Luna os dois generais, e a coisa vai indo.

Mas o Cury, inclusive, sendo cardiologista clínico, tem, provavelmente, toda uma filosofia de anti-tensão, de evitar confrontos, conflitos, exceto quando é na areazinha mais restrita dele, que aí ele perde a paciência, mas para o conjunto do Estado, essa atitude do cardiologista sábia. E o Jayme Gimenez tem uma quilometragem maior do que a minha, inclusive, em política. Não sei, provavelmente é quem tem a maior quilometragem de todos. Tem o (deputado Mauro) Bragato também. É que o Bragato disfarça por cirurgias plásticas, maquiagem, sei lá, não dá a impressão de que possa ser tão veterano. Mas eu acho que esse segundo fator pesou bastante também. E um terceiro fator, indiscutivelmente, é que nós conseguimos obter recursos. Conseguimos obter recursos, e conseguimos um quarto fator: ter o apoio da Assembleia (Legistlativa de São Paulo, ALESP). Sem o apoio da Assembleia não teríamos os recursos. Sem o apoio da Assembleia não teríamos a intermediação com os municípios, que é fundamental. Os deputados sabem disso.

A nossa aliança, em política, qualquer aliança, exige coisas concretas, não se faz só em bases espirituais. Mas a nossa aliança, muito mais do que nas nomeações, foi feita nas obras, no orçamento e nós respeitamos isso, inclusive com os setores da oposição. Nós respeitamos o parlamentar, a reivindicação, o que ele apresenta, e devo dizer o seguinte: 90%, 95% das emendas ou das indicações são coisas boas. Há um preconceito no Brasil, parece que emenda de parlamentar é a famosa fonte luminosa, embora eu não tenha nada contra fonte luminosa, mas que seriam coisas não prioritárias. Isso não é verdade. Os parlamentares estão sempre voltados para as grandes ou pequenas, mas significativas, prioridades. Portanto, a receita para dar certo foi essa: uma postura de princípios, de caráter, de orientação. Segundo, os homens certos para comandarem isso. Terceiro, a Assembleia Legislativa, que fez esse papel, esse trabalho de intermediação, e a existência de recursos, que, em parte, se deve muito a nossa área econômica, tanto ao Mauro Ricardo (secretário estadual da Fazenda), quanto ao Luna. Quer dizer, como conseguir dinheiro. Coisa que também, nesse caso, eu dei minha contribuição, porque também tenho imaginação para efeito de encontrar recursos para gastos essenciais. Junto com isso, melhoramos muito a produtividade do dinheiro.

Olha, hoje no Rodoanel eu estava olhando números. Nós, quando assumimos, renegociamos o contrato. Foi a menor revisão de preços que já se fez em uma obra desse porte, porque escolhemos preço global, abaixamos o preço do contrato, de cara, em cento e tantos milhões, economizamos. Eu diria para vocês que, com relação ao padrão tradicional de obras deste tamanho, nós economizamos uns 2 bilhões de reais, sem exagero. E isso, evidentemente, permite com que nós atendamos prioridades muito diversificadas aqui no Estado de São Paulo. E como eu já disse outro dia, eu saio do Governo triste por sair, não estou contente em deixar o Governo de São Paulo. Mas, ao mesmo tempo, porque eu me dei bem no Governo, pessoalmente. Eu já fiz muita coisa na vida, não vou nem recapitular aqui, sempre com muita dedicação. Eu sempre fui caxias, eu era indisciplinado quando era estudante, mas era caxias. Agora, mas eu devo dizer que aqui no Governo eu me dei bem como nunca me dei na vida. Eu gosto até do Palácio (dos Bandeirantes) aqui, onde eu passei (morei nesses três anos e três meses como governador). Em geral o pessoal fala: “Não, morar aí é meio chato, é muito frio, frio não de temperatura, é muito grande”. Quando eu entrei aqui, eu me lembrei que eu estive três anos vindo diariamente aqui, porque eu vinha até de fim de semana com o (ex-governador André Franco) Montoro. E agora mais três anos e três meses, é o lugar da vida onde eu mais trabalhei, onde eu mais trabalhei foi aqui.  

E aqui nesse Salão dos Despachos, provavelmente, eu fui o cidadão que mais falou aqui. Porque na época do Montoro, quando tinha troca de secretários, quando tinha solenidades, etc., apesar de que eu era da área de economia, ele me dava a palavra sempre. Era eu que fazia a saudação para quem ia, saudação para quem vinha, explicação dos programas e tudo mais. Então, eu estou como se estivesse deixando uma casa, não é uma casa da minha família, mas é uma casa minha. E, paralelamente, devo dizer, sem que isso pareça jogo de palavras, ou como se diz, um oxímoro, de dizer coisas contraditórias, eu saio também com muita alegria. Alegria por ter conseguido fazer as coisas. A gente conseguiu botar o Estado para frente. Isso é uma conquista que, para mim, não tem preço, sinceramente. E mais ainda, saio tranquilo porque sei que o (vice- governador Alberto) Goldman está preparadíssimo para isso.

O Goldman, desde janeiro de 2009, quando deixou a Secretaria de Desenvolvimento, dando lugar ao (atual secretário da pasta Geraldo) Alckmin, ele tem compartilhado diariamente as decisões, o acompanhamento, os reparos, as propostas, as sugestões, os planos do Governo. Está inteiramente por dentro. Por outro lado, toda a equipe, exceto aqueles que vão se desincompatibilizar por motivos de candidaturas, que nem são tantos, o (presidente da República) Lula me disse outro dia que ia mudar 16 (ministros) no Governo Federal, no nosso caso é menos, e olha que estamos mais na base, normalmente deveria até ser mais no Governo do Estado. Mas toda a estrutura é mantida dentro do governo, o que também é importante, porque tem muitas pessoas, muita gente trabalhando e a memória das coisas é fundamental para dar sequência àquilo que vinha se fazendo. Então, isso vai continuar, e vamos partir para uma nova etapa.

Mas eu quero dizer a vocês: qualquer que seja o resultado dessa nova etapa, eu me sinto preenchido na vida por tudo que fiz, por tudo que tive oportunidade de participar. Nós formamos uma equipe de primeiro time. Eu, aliás, tenho defeitos e virtudes como todo mundo, mas entre as virtudes é de saber montar equipe, isso eu sei fazer, toda a minha vida eu fiz isso. Monto equipes, escolho bem as pessoas, por um lado, e, por outro, dou liberdade para fazerem, para aparecerem.

Os prefeitos aqui sabem, ninguém, nenhum prefeito veio me pedir nada, nunca. Todos aqui sabem, não é que não vieram me pedir por receio de que eu não atendesse bem, é porque não precisa. O sujeito sabe que o Governador deixa os secretários livres e deixa a Casa Civil livre para decidir, para trabalhar isso. Garanto para vocês que, do ponto de vista de economia, é muito mais eficiente. Pode, por uma ou outra coisinha de varejo, etc., a gente pode perder, mas é muito mais eficiente, as coisas andam muito mais depressa, a faixa de justiça é maior com a liberdade e com o trabalho feito positivamente para o Estado. Eu acho que termina sendo o método mais eficiente. E isso também estimula o secretário. Os secretários, dirigentes de empresa têm uma enorme liberdade de atuação, e olha que eu tenho fama de centralizador, que amarra, isso e aquilo. Eu não sou centralizador, eu sou controlador, o que é completamente diferente. Eu acompanho efetivamente as coisas, mas eu não fico substituindo o trabalho de ninguém. Quando eu concordo com uma medida, eu nunca puxo o tapete, porque, às vezes, na vida pública isso acontece. Vocês são prefeitos e sabem disso. Tem um auxiliar que faz uma bobagem, às vezes a tentação é passar a bobagem para a conta dele. Isso pode ser eficiente em um curtíssimo prazo, mas para uma equipe funcionar é muito ruim.

Então, a gente tem que ter confiança e ao mesmo tempo dar confiança àquele que trabalha junto, esse é outro fator, a meu ver, que permeia todas as nossas ações, a competência da nossa equipe de governo, competência para fazer acontecer, para fazer acontecer de maneira discreta, correta, sem discriminações. Eu já fui a muitas cidades, vi prefeitos de todos os partidos. Sei que alguns dos que aqui estão vão tomar rumos nessa campanha eleitoral diferente dos nossos, mas eles têm o nosso respeito. Eu só peço a eles lealdade, e não é pedir muito, e o reconhecimento de como o Estado trabalhou e como nós trabalhamos. Apenas isso, mais nada. E que continuem trabalhando pelo seu pessoal, pelo pessoal de cada cidade, pelo pessoal de cada região, como vieram fazendo até agora, e preparados para continuar fazendo as coisas, porque no ritmo, o padrão que nós criamos vai fazer com que o Governo do Estado esteja sempre correndo atrás dos prefeitos para fazerem, diferentemente do passado, e até cobrando – vocês sabem disso, cobrando a execução, cobrando os planos.

 Há um ou outro caso (no Estado de) São Paulo de coisas incríveis que não foram feitas por lentidão às vezes de prefeitos. Por exemplo, AMEs (Ambulatórios Médicos de Especialidades), que é hoje o creme das reivindicações, todo mundo reivindica (um) AME. Pois tem AMEs que não foram feitos porque o prefeito dormiu no ponto. Mas isso é muito raro, e é uma cultura aquela da inércia ou da questão política: “não, ele vai fazer, vai favorecer, etc.” – é uma cultura em extinção, e essa é uma bela cultura que deve ser extinta para melhorar o meio ambiente político social do nosso Estado.

Muito obrigado a todos vocês!