Alckmin discursa na posse da nova diretoria da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo

São Paulo, 26 de junho de 2013

qua, 26/06/2013 - 22h56 | Do Portal do Governo

Governador Geraldo Alckmin: Boa noite a todas e a todos, cumprimentar o presidente da OAB, Marcos da Costa, secretária da Justiça, Eloísa de Sousa Arruda, desembargador José Gaspar Gonzaga Franceschini, desembargador José Daniel Pinheiro Machado Cogan, nosso sempre presidente, secretário da Justiça Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, dr. Luiz Flávio Borges D’Urso, conselheiro federal da OAB, amigo fraterno, dra. Ivette Senise Ferreira, dr. Marco Antônio Novaes de Paula, diretor do Denarc, doutores Samuel Karasin e Iasin Ahmed, juízes de Direito que nos ajudam, são braços direitos nossos lá no Cratod, conselheiros da OAB, presidentes de comissões, advogados e advogadas, a quem venho aqui para agradecer o trabalho voluntário maravilhoso lá no Cratod.

Dizer da alegria de vir aqui à OAB, presidente Marcos da Costa, essa é uma casa que eu sempre fico feliz quando eu tenho oportunidade de vir. Eu sou médico que gosta do Direito. Gosto até de palpitar, viu Mariz? Dar uns pareceres aí como rábula, né? Eu levo alguma coisa, falo: “isso aqui pode. Isso aqui não pode”. E o Procurador Geral do Estado sempre confirma os meus palpites. Mas antes uma palavra de agradecimento. Tudo que envolve o interesse público, a OAB está presente. Não só no Estado democrático de Direito, mas em todos os momentos da vida nacional. E, infelizmente, por uma questão dolorosa… Mais do que dolorosa, trágica, da sociedade moderna, que é a questão das drogas. E a OAB mais do que presente. Não é só… A OAB presente de coração, com envolvimento, com amor. Dr. Cid Vieira de Souza Filho relatou aqui a camiseta do Rogério Ceni. Mas ele tinha no carro, de reserva, a do Valdívia, do Pato, do Neymar, para todos os gostos, não é? O Neymar nós emprestamos, então vou lhe mandar a do Montillo por enquanto. Enfim, essa coisa apaixonada. E a gente fica muito feliz de ter aqui para me incorporar a esse mutirão pela vida, dr. Cid. Trabalho que não é fácil. O Brasil foi pego no contrapé… Eu sou médico, e na década de 70, década de 80, Eloísa, a reforma sanitária era “abaixo os hospitais psiquiátricos”. Era proibida a hospitalização. E realmente tinha razão de ser, porque o Juqueri chegou a ter em Franco da Rocha 20 mil doentes mentais. Não era tratamento, era quase um depósito de pessoas. Então a desospitalização foi correta. E o tratamento ambulatorial. Só que na década de 80 surgiu o crack, que chegou ao Brasil na década de 90. O crack não tem 15 anos no Brasil. E hoje, infelizmente, invadiu, vem de longe, mas invadiu as fronteiras dos Estados, das cidades, as ruas, os lares, os mais bem estruturados, ceifando vidas, famílias. É uma realidade que precisa de um esforço coletivo. E muito bem colocado pelo dr. Cid e pelo presidente Marcos, a questão. De um lado, o combate duro ao tráfico de drogas. Eu estava até levantando agora, nós tínhamos no dia 1º de janeiro deste ano, no Estado de São Paulo, 196.384 presos. Hoje, nós temos 206.786 presos. Não é que prendeu e soltou. Prendeu e ficou. Aumentou a população carcerária em 10.402 pessoas, em cinco meses e meio. Quase que 2,5 mil presos por mês, ou seja, são duas e meia penitenciárias por mês. Tem que fazer uma penitenciária a cada nove dias. É um número muito triste, mas é necessário. Se não fosse isso, a situação de segurança ainda estaria mais grave. Porque esta epidemia da droga… O Brasil é hoje, infelizmente, o maior consumidor de crack do mundo e o segundo maior consumidor de cocaína. Nós não somos mais só passagem. Infelizmente há um problema de saúde pública.

E de outro lado, é dar a mão para quem precisa. E não é um trabalho fácil. Porque eu vi aqui… Nós tivemos 1.121 internações até a semana passada, já deve estar em 1.200; 94 involuntárias, 1.026 voluntárias. E é diferente da medicina comum, que você tem uma apendicite, opera, costura e bye bye, resolvido. A pneumonia, antibiótico, pá, pá, acabou, tchau, tchau. Dependência química não. A hora que sai do hospital começou o novo desafio. Por isso nós lançamos o cartão Recomeço. Porque não adianta dizer: internou 45 dias, agora vai embora. Não, volta… A dependência química é doença crônica e recidivante. Então, o cartão Recomeço é para recomeçar a vida. Um novo plano de vida, emprego, trabalho, inserção social, família, envolvimento. E aí não precisa ser hospital. Precisa ter uma comunidade terapêutica, precisa ter casa transitória. Então nós lançamos um grande edital e o cartão Recomeço… O cartão não é para o dependente. O cartão é para instituição séria, credenciada, aprovada pela Secretaria de Saúde, que vai receber lá o paciente e vai atendê-lo e vai ser remunerada por isso, senão quebra. E o governo apóia. Então um trabalho que vai desde a internação, passando pelo cartão Recomeço, pelas comunidades terapêuticas, e a sua reinserção. Eu tenho ido lá ao Cratod. Sábado mesmo eu estive lá, eu sempre faço um roteiro. Vou lá na Nova Luz, paro no bar da dona Nega, que é ali na esquina da… É duro, porque a gente acha, agora eu vou passar na rua Helvétia, na alameda Dino Bueno, e vai estar melhor. E não melhora fácil, né? É uma tarefa dura. Mas a gente não pode desistir. Não é porque o problema é geral que nós podemos nos acomodar ou nos consolar com isso. Não. Nós temos que fazer a diferença. Depois vou lá ao Cratod. Sábado tinha 22 pacientes, rapazes e moças. Pacientes jovens, né? E nós não temos problema de falta de vagas, a não ser adolescentes. Adolescente é mais complicado, então nós estamos contratando e ampliando os nossos novos serviços. E triplicamos o número de vagas. Porque quando veio o problema da droga, na década de 90 e agora, o Brasil não tem leito… Então nós passamos de 330, hoje para 1.026 leitos hospitalares e o mais importante, que é a parte social, que é o cartão Recomeço.

Mas venho para trazer um grande agradecimento. Dizer que a OAB dá um exemplo… Diz que na vida não basta viver, é necessário conviver e participar. Um grande exemplo de participação. Uma das coisas mais importantes hoje, que envolve de um lado a saúde das pessoas… Eu estava vendo um dia desses uma pesquisa sobre a nova sociedade, esse novo momento. O que as pessoas querem? Então falaram: ser felizes. Mas o que é ser feliz? Então algumas coisas que dá para extrair ali da pesquisa; saúde. Porque se você não tem saúde, o que adiantam as outras coisas? Então a valorização da saúde. Você vê o clamor das ruas aí. Muita gente pedindo mais e melhor saúde. Depois, amizade, relações de afeto. O ser humano… O maior órgão do corpo humano é a pele. Precisa pegar, tocar, falar, abraçar. E família é o primeiro núcleo da sociedade. Família. Então, eu diria que esse é um esforço e que a OAB dá um grande exemplo. E nós queremos aqui agradecer muito a participação dos juízes de Direito, do Ministério Público, dos advogados, do Denarc, da polícia, da queridíssima Eloísa, que faz com enorme paixão esse trabalho, mas especialmente, aos advogados. Eu, a hora que tiver um tempinho, ainda vou estudar Direito, né? O Mario Covas disse que o sonho dele era fazer um júri, né? Ele queria fazer um júri. E eu sempre leio e releio um conto maravilhoso do Monteiro Lobato chamado “O júri na roça”. Há um homicídio numa cidade do interior, onde não acontecia absolutamente nada havia 50 anos. Houve lá um homicídio. Então há um júri. Vem o doutor lá da Capital, advogado, e todo mundo quer ouvir os discursos, a defesa, o ataque. Aquela coisa maravilhosa. E aí, os jurados são reunidos para dar o veredicto. E aí não sai o veredicto. Aí o juiz, madrugada adentro, muito incomodado com aquilo, falou: “olha, tranque numa sala. Enquanto eles não derem o veredicto, não pode sair daí”. Aí não adianta nada. Não vem. Aí explicaram, “olha, aqui sempre tem que ser… Tem um carabina aí, fulano, que ele tem que conduzir o… Manda chamar então”. Aí manda, o sujeito vem, meio dormindo, tal. Abre a parta. Volta, fala: “olha, não tem ninguém. Os jurados fugiram. Saíram pela janela. Mas deixaram um bilhete aqui: nós condena no grau máximo o réu”. Aí o juiz então, finalmente… Então, “cadê o réu?”. Aí ninguém acha o réu. Aí chama o oficial de Justiça, “vai atrás do réu!”. Aí depois o oficial de Justiça volta e fala: Vossa Excelência, o safado escafedeu-se”. O réu já tinha fugido havia muito tempo. Mas não podendo fazer um júri, quero dizer da alegria de poder conviver aqui com os advogados de São Paulo. Parabéns! Muito obrigado!